quarta-feira, 12 de março de 2014

Maldito Vírgula

Maldito? Maldito Vírgula!
A vinheta "Maldito Vírgula" criada por Itamar Assumpção na tentativa de se livar da cunha de Maldito. Os tais "Malditos da MPB" expressão criada provavelmente por algum diretor de gravadora pra justificar a dificuldade de transformar em produto aquilo que é a maior expressão de liberdade artística.
Segundo esses "senhores da música" e da grande mídia, essa turma era difícil de vender, de ouvir, de digerir,   eram inflexíveis, impopulares.
Artistas de talentos inquestionáveis, certos da importância do trabalho não cediam as regras mercadológicas.
Vários desses artistas amargaram ostracismo de décadas, outros já se foram sem verem seus legados fazendo a cabeça de boa parte dos artistas da nova geração.

TOM ZÉ, JARDS MACALÉ, LUIZ MELODIA, JORGE MAUTNER, ARRIGO BARNABÉ
WALTER FRANCO, SÉRGIO SAMPAIO, ITAMAR ASSUMPÇÃO, WALLY SALOMÃO

estão nessa lista. Outros também entrariam facilmente, não só músicos e compositores, os malditos se estende a poesia, literatura, artes plásticas, teatro, cinema e toda forma de expressão artística.
Passado a era das gravadoras (graças a Deus) esses artistas estão sendo redescobertos pelo público e por jovens músicos ávidos por algo inquieto, instigante, original, diferente do que o mercado propõe.
 Posso citar aqui, Serena Assumpção, Kiko Dinnucci, Filarmônica de Passárgada, O Terno, Virgínia Rosa, Claudia Vieira, Suzana Salles, Vange Milliet, Cidadão Instigado, Cássia Eller, Marcia Castro, Zélia Duncan e a banda Pó de Ser como herdeiros direto desses provocadores.




O INÍCIO

No Tropicalismo  se têm a notícia dos primeiros "amaldiçoados", na era dos festivais
 quando  Tom Zé e Walter Franco aparecem para o grande público. 
Antes deles Jorge Mautner, nosso beatnik já não era "normal" quando apontava caminhos pop em plena era da Bossa Nova
Ainda nos festivais, porém já nos anos de 1970 
aparece o menino de Cachoeiro do Itapemirim (terra de Roberto Carlos) 
Sérgio Sampaio botando o bloco na rua. 
Luiz Melodia chega através de uma indicação de Wally Salomão, cedendo canções para o emblemático show de Gal Costa  "A Todo  Vapor
Jards Macalé (parceiro de Wally) que já vinha cedendo canções para Maria Bethânia e Gal, tem a missão de produzir o disco de Caetano Veloso exilado em Londres, o cultuado "TRANSA" que hoje é um clássico e motivo maior do rompimento de Jards com os tropicalistas por não ter seu nome nos créditos do disco. Gothan City é a canção que entra no festival e choca a platéia e jurados. O emblemático  disco
"Let´s Play That" vira fetiche entre colecionadores.
Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção surgem como ponta de lança na chamada "Vanguarda Paulista" grupo que nos anos 80 faz a cena alternativa mais interessante naquele momento do Brock (rock Brasil) . Arrigo lança "Clara Crocodilo" álbum dodecafônico, operístico, com narrativa de quadrinhos, entre ) vocálicos e vocalizes estridentes, eis um álbum perturbador,conceitual, belo e inovador. 
Itamar Assumpção toma de assalto o mundo com sua lendária banda "Isca de Polícia" com o álbum 
Benditos sejam  esses nobres no banquete dos mendigos, desde então a Música Popular Brasileira nunca mais foi a mesma.

por Kleuber Garcêz

Discoteca Básica

Walter Franco : Revolver
Luiz Melodia: Pérola Negra
Jards Macalé: Let´s Play That
Jorge Mautner: Para  Iluminar a Cidade
Itamar Assumpção: Bleleléu leléu eu
Arrigo Barnabé: Clara Crocodilo





Sergio Sampaio
por  Diego de Moraes

Mamãe varria a casa cantarolando a marcha-rancho “Eu quero é botar meu bloco na rua”, sem saber quem era o compositor. Aqueles versos adentravam meu inconsciente de menino em um Senador Canedo sem internet, que me obrigava a ligar as pontas por conta própria. Na adolescência, encontro, numa antiga revista Bizz, no canto de uma matéria sobre o Raul Seixas, uma nota sobre “um tal” de Sérgio Sampaio, e descubro que ele é o autor daquela melodia que mamãe cantarolava. Guardo o nome e sigo. Um dia, vasculhando sons, num sebo no centro da nossa capital, esse “bicho urbano-rural” chamado Goiânia, encontro um cd que sangrava o bendito nome na capa. Era um disco clássico da MPB, relançado em cd, no início do século XXI, sob a supervisão do (ex)”titãCharles Garvin. Sem pensar duas vezes, gasto meus trocados, sem poder, e volto pra casa feliz da vida, me sacudindo no Eixo “diabo velho”.

“Eu quero é botar meu bloco na rua”, álbum lançado pela Phillips, em 1973, foi um estrondoso sucesso de vendas, graças à repercussão da faixa título, que se destacou no VII Festival Internacional da Canção, e projetou a persona enigmática de Sérgio Sampaio, na história da música brasileira — sendo, depois, tachado com a alcunha de “maldito” ou “marginal”. “Maldito vírgula”, levanta o dedo Itamar Assumpção! O sucesso do “Bloco” permanece, agradando a gregos e troianos e divulgando esse gênio, “poeta do riso e da dor”, que completaria 64 anos, no último dia 13, se uma pancreatite não o tivesse levado, assim como levou Leminski.

Depois de me embriagar por cada detalhe desse álbum, vasculhei o restante da discografia de Sampaio e, entre o pirado “Sociedade Da Grã-Ordem Kavernista” (1971) e o póstumo “Cruel”(2006), encontro o último disco que ele lançou em vida, “Sincera”"não há nada mais bonito do que ser independente”.  Em cada canção, uma pérola. O conjunto da obra é de arrepiar, mas considero o “Bloco”, o mais bem gravado, graças à aula de produção dada por Raulzito Seixas, que também foi levado por uma pancreatite.

Entre as faixas desse disco que tiveram mais destaque radiofônico, está a canção “Viajei de trem”, com seus versos angustiados e sintomáticos de um período histórico obscuro, lastimando: “minha lucidez nem me trouxe o futuro”. Sérgio dizia que só incluiu essa música no repertório do LP por insistência de Raulzito, que se entusiasmava com ela. Daí, fico aqui, pensando com meus botões: será que essa música não inspirou Raul a fazer o “Trem das 7”? Pensa comigo. Ambas são construídas em um dedilhado enquanto base para uma poesia psicodélica que destaca a imagem metafórica da ferrovia. Será? “Viajei”? Acho que não. Os compositores se influenciam. Por exemplo, aí no título desse texto faço um intertexto com a expressão “trilhos sonoros”, que batiza uma das canções do meu amigo Kleuber Garcêz (meu parceiro na banda Pó de Ser), canção que foi inspirada em um verso de Juraildes da Cruz. É assim... Uma canção gera outra. Mamãe viajou de trem e eu viajei na canção.



EXPERIMENTALISMO

Eles foram fundo em busca da sonoridade, da loucura e da genialidade e claro que abriu portais para várias possibilidades, várias interpretações, entre o entusiasmo e a estranheza, muitos se jogaram num abismo. 



TODOS OS OLHOS de Tom Zé (1973).  

A controversa capa do disco foi uma ideia irreverente do então amigo de Tom Zé, Décio Pignatari  Em plena ditadura este sugere pregar uma peça nos censores, fotografando algo que parecia ser um olho mas na verdade era uma bola de gude colocada no ânus de uma modelo. O conceito foi então fotografado pelo publicitário Chico Andrade e a ousadia passou desapercebida pelas autoridades.
O próprio Tom Zé declarou sobre o auto boicote quando fez esse disco. "Foi medo do sucesso mesmo " 
Sucesso recém adquirido ao chegar de Irará com os tropicalistas. Fato que após o lançamento de "Todos os Olhos" sua carreira estagnou e nem mesmo o genial "Estudando o Samba" salvou Tom Zé de amargar quase 20 anos de esquecimento. Chegando a cogitar a possibilidade de voltar a Irará (BA) para gerenciar um posto de gasolina de um sobrinho. Felizmente foi salvo por David Byrne (Talking Head) que garimpando vinis na augusta se deparou com o Estudando o Samba e foi atrás do nosso herói. Consta que na ocasião Caetano Veloso disse a David Byrne que não tinha mais nenhuma notícia de Tom Zé, mais tarde declarou ter confundido Tom Zé com Tuzé de Abreu